quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Curas

A Fal escreveu uma engraçadíssima crônica sobre os ataques manifestos de melancolia.
Sem qualquer possibilidade de expressar meu humor numa escrita tão vigorosa e bonita como a dela não pude deixar de considerar os ataques de melancolia que eu vivi em épocas anteriores.


Penso que esses ataques não eram tão claramente expressos. Na verdade, eram insidiosos.

Quando eu tinha feito qualquer coisa que mereceria um puxão de orelha ou quando pintava uma
angústia daquelas inexplicáveis ou quando eu tinha sofrido uma decepção; qualquer coisa assim,
que a gente costuma chamar de tristeza,
no café da manhã, lá estava meu avô, que parece que adivinhava
o mau estado de ânimo que eu carregava
e compenetrado serrava uma grossa fatia de pão,
que a seguir dividia em tiras também grossas
então empurrando o seu prato na minha direção
dizia com seu timbre nasalado no
sotaque carcamano:
"Pocha Bela, pocha."

Eu obedecia imediatamente, encharcando o pão no café com leite
e me inclinando rapidamente para morder sobre a tigelinha
 – ainda tomávamos o café com leite em tigelas, feito os franceses.

Café adoçado com açúcar e leite integral e as tiras eram cortes do filão de pão de banha.

Ao fim da refeição, meu avô agradecia: "Graças a Deus hoje também comemos"

Talvez pelo o fato de perceber meu avô
atento às minhas prosaicas mazelas,
ou por ter aquele ritual serenamente cumprido
ou talvez, devesse à comida de verdade
sem diet ou light depois do nome de batismo,
 a verdade é que minha tristeza ficava encolhidinha,
no fundo da minha alma e quando a tristeza ia embora
eu já nem me lembrava do porque de ela haver se instalado.





Então inté...

terça-feira, 10 de março de 2015

O Lago


Já havia lido e me apaixonado
pelo bruxinho inglês quando fui ver o filme,
temendo pelo resultado porque sempre desejamos
que as imagens que nossa fantasia realiza
quando lemos qualquer coisa,
sejam as imagens reveladas na tela,
Criadas por qualquer cineasta no entanto,
mesmo aquele que é genial,
o filme nos decepciona.

em primeiro lugar porque o livro não é o filme.
Livro e filme são duas linguagens diferentes,
depois porque a tela
revela um imaginário que nada tem com o nosso
porque somos inexoravelmente... outras pessoas,
não somos nem o diretor, nem o escritor.

Deixando de lado as considerações acima.

O filme começou bem.
O jovem ator me encantou e seus amiguinhos, professores,
o guarda caças, o primo, os tios
satisfaziam perfeitamente minhas pretensões co- autorais.

quando nos aderredores da escola,
os novos alunos
tomam os barcos
para chegar ao castelo,
eu ouço uma alusão orquestral ao Lago dos Cisnes.

Claro que atenta ao desenrolar das cenas

eu registrei o fato

mas empurrei pro lado minha estranheza

e me fixei na trama.

Depois de um tempo, comentários,
opiniões, tergiversações várias,
concordâncias e contradições,
críticas e interpretações desenvolvidas
O lago dos cisnes fez todo o sentido para mim,

o patinho feio que deixava a casa dos tios "patos"
era o belo cisne, invejado e admirado no colégio interno

Aquele que recebia as mais atentas instruções
dos professores mais destacados da escola,
o que tinha os melhores amigos,
que foi destinado para a mais desejável Casa.

As perdas que ele sofre são as perdas da adolescência:
irreparáveis. Instâncias insubstituíveis.
Senha de ingresso ao mundo adulto.

Tudo vai fazendo nexo.

Por que então fui traída por autora e roteiristas no final da Saga?



                                       
                                                                                               Foi assim...      Até já.


Velhice


08 ABRIL 2009



Não me faças esperar
Nos lugares marcados
Teus medos estarão ali
Teus venenos
Tuas volúpias.

Eu estarei visível
Pretendida
Não me queiras adivinhar
Nos meus modos
Eu sou digna
Exibida

Não me reconheças sob meus véus
Eu sou mansa
Sábia
Eu me demoro

Não me queiras medir
Minhas plumas,
pedras e metais
Minhas armas
Estandartes e enfeites
Vou além das medidas
Sou folgada

Tenho estranhos trajetos
Sob meus cílios
Tenho colinas e vales
Rios largos
Mares Verdes
Solo fértil
Tenho mapas nas veias
Azuis sob a pele fina,
Geografias nas palmas macias das mãos

Não me ouças como
Orquestra
Sou banda
Fanfarra
Naipe de cordas ou de sopros
Incompleta, pausando
Reunindo-me em diversas vozes
Em diferentes andamentos

Não me faças cantar
Eu danço, flutuo
Requebro e volto a girar

Não me saboreies
Além dos cheiros verdes,
Dos eflúvios e vapores,
Dos caldeirões e gamelas,
Das cores fatiadas,
Dos grãos espalhados,
De todo o espectro da luz.

Nas ilhas de frescor
Do meio-dia
Estarei em repouso
Respirando profundamente

Não me denuncies
Minhas tradições
Eu seduzo
Engano
Divido

Eu não abandonei nada
No caminho
Só não me deixei levar
Estanquei diante
Do imponderável
De uma manhã clara

Não me forces
Palavras de amor
Meu corpo está disponível
Minha alma se insinua
Nas dobras dos lençóis

A pele nacarada
Dará continuidade
Da testa aos ombros,
Ao torso,
Ao calcanhar.
Minhas ondulações são navegáveis.

Eu me uno estreita e fácil
Aos corpos que
Se me oferecem
Serei a taça
O tinto excessivo
Encorpado cheiroso.

Não me faças declarar
Meus nomes
Meus endereços
Minhas rendas
Eles estão brilhando
Em meus seios
E meus joelhos.

Falsos documentos
Das minhas idades.

Inezita

Descendente do Almirante Barroso (o da Guerra do Paraguai).
 a moça da sociedade cujo pai " Não fazia gosto"(sic)
que a filha tocasse violão,
a folclorista, cantora, violeira, atriz,  promotora cultural,
risonha, bela,estilosa, dona de voz invejável,
deu- nos grandes alegrias e nos ofereceu grandes momentos
de beleza, de prazer, de arte.
Deixou-nos referências que nos identificam,
resgatou a figura do jeca: alijou o sujeito triste e desvalido
e fez emergir  o dono de  cultura preciosa,  o caipira
paulista dos quatro costados. Querida. Querida.
Seu nome, no diminutivo, dá - nos a ilusão de sermos íntimos
dessa mulher gentil, valente, digna.

Porque ela morreu, deixando um buraco imenso
causando desarmonia no espaço vou pensar nela,
entre tantas outras músicas que ela celebrou,
na canção que divertia nosso dia, cada vez que ela cantava.


C'a marvada pinga é qu'eu me atrapaio
Eu entro na venda e já dô meu taio
Pego no copo e dali num saio
ali mermo eu bebo, ali mermo eu caio...
Só prá carregá é qu'eu dô trabaio. Oi lai

Eu bebo da pinga porqu'eu gosto dela
Eu bebo da branca bebo d'amarela
Bebo no copo bebo na tigela
Bebo temperada com cravo e canela
Seja em quarqué tempo vai pinga na guela...

Pego o garrafão e já balanceio
Qué pra mode vê se ta mermo cheio
Num bebo de veiz porque acho feio
No primeiro gole vô inté no meio
Mais é no segundo qu'eu desvazeio. Oi lai

Cada veis qu'eu caio, caio deferente
'meaço p'a trais e caio p'a frente
Caio devagar, caio de repente
Vô de currupio, vô deretamente
Mai sendo de pinga, caio contente.

Venho da cidade, já venho cantando
Trago o garrafão que venho chupano
venho pros caminho venho trupicando
Chifrand'os barranco venho gambeteando
no lugar qu'eu caio já fico roncando. Oi lai

Marido me diss'ele me falô
"Largue de bebê peço por favô",
Prosa de hóme nunca dei valô
Bebo c'o sor quente p'a esfriá o calô
E bebo de noite práfazê suadô. Oi lai

Eu fui numa festa lá no rio Tietê
Eu lá fui chegano p'ro amanhecê
Já me dero pinga pra mim bebê,
Já me dero pinga pra mim bebê
(Tava sem fervê)
Eu bebi demais e fiquei mamada,
Eu cai no chão e fiquei deitada
Ai eu fui pra casa de braço dado
Ai de braço dado com dois sordado
Oi muito obrigado!


Adeus Inezita.



quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Momo de Novo


Acho que todo mundo vai gostar desta marchinha.

Faz parte da tradição carnavalesca

a alusão brincalhona aos temas conhecidos

nas músicas para dançar nos salões e nas ruas,

(agora nos sambas enredo).

Esta, maravilhosa, é do Professor de ciências dos meus netos

na Escola Oga Mitá.

Professor Roni Valk.

De novo Momo

e este ano torcendo para o prof ganhar

o Concurso de Marchinhas do Rio de Janeiro.


                                                   Então foi assim...               Até já.