terça-feira, 10 de março de 2015

Velhice


08 ABRIL 2009



Não me faças esperar
Nos lugares marcados
Teus medos estarão ali
Teus venenos
Tuas volúpias.

Eu estarei visível
Pretendida
Não me queiras adivinhar
Nos meus modos
Eu sou digna
Exibida

Não me reconheças sob meus véus
Eu sou mansa
Sábia
Eu me demoro

Não me queiras medir
Minhas plumas,
pedras e metais
Minhas armas
Estandartes e enfeites
Vou além das medidas
Sou folgada

Tenho estranhos trajetos
Sob meus cílios
Tenho colinas e vales
Rios largos
Mares Verdes
Solo fértil
Tenho mapas nas veias
Azuis sob a pele fina,
Geografias nas palmas macias das mãos

Não me ouças como
Orquestra
Sou banda
Fanfarra
Naipe de cordas ou de sopros
Incompleta, pausando
Reunindo-me em diversas vozes
Em diferentes andamentos

Não me faças cantar
Eu danço, flutuo
Requebro e volto a girar

Não me saboreies
Além dos cheiros verdes,
Dos eflúvios e vapores,
Dos caldeirões e gamelas,
Das cores fatiadas,
Dos grãos espalhados,
De todo o espectro da luz.

Nas ilhas de frescor
Do meio-dia
Estarei em repouso
Respirando profundamente

Não me denuncies
Minhas tradições
Eu seduzo
Engano
Divido

Eu não abandonei nada
No caminho
Só não me deixei levar
Estanquei diante
Do imponderável
De uma manhã clara

Não me forces
Palavras de amor
Meu corpo está disponível
Minha alma se insinua
Nas dobras dos lençóis

A pele nacarada
Dará continuidade
Da testa aos ombros,
Ao torso,
Ao calcanhar.
Minhas ondulações são navegáveis.

Eu me uno estreita e fácil
Aos corpos que
Se me oferecem
Serei a taça
O tinto excessivo
Encorpado cheiroso.

Não me faças declarar
Meus nomes
Meus endereços
Minhas rendas
Eles estão brilhando
Em meus seios
E meus joelhos.

Falsos documentos
Das minhas idades.

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